Fez-se silêncio em Paderborn e cantou-se o fado

Inúmeras pessoas assistiram na noite passada às atuações de Liliana Luz, Sara Duarte, Mara Pedro e do grupo português Sina Nossa na “Kulturwerkstatt” da cidade de Paderborn, naquela que foi a 27.a Noite de Fado dinamizada pelos Lusitanos Paderborn e.V.

Numa noite em que, à semelhança dos anos anteriores, dominava a presença do público alemão, o público presente teve a oportunidade de degustar a maravilhosa bebida e comida tipicamente portuguesa, toda ela confecionada pela incansável e dinâmica equipa dos Lusitanos Paderborn e.V.

Antes do início das atuações, Artur Domingues, em representação da equipa dos Lusitanos Paderborn e.V., este ano acompanhado no palco pela moderadora alemã Julia Ures, mostrou-se emocionado perante uma sala repleta com um ambiente tão caloroso, que ainda teria tido mais pessoas se o espaço físico assim o permitisse. Assim, agradeceu à sua equipa, aos patrocinadores, bem como à moderadora Julia Ures, por ter aceite este desafio de apresentar esta 27.a Noite de Fados em alemão, bem como às entidades oficiais portuguesas e alemãs presentes, uma vez que também marcarm presença o representante do Presidente da Câmara Municipal de Paderborn e o Cônsul-Geral de Portugal de Düsseldorf, José Manuel Carneiro Mendes. O Cônsul-Geral saudou o público presente e congratulou os Lusitanos de Paderborn e.V. como divulgadores da cultura portuguesa, bem como, como defensores dos valores da multiculturalidade, citando que Paderborn é definitivamente a capital do fado na Alemanha, não obstante de o fado ser de todos nós pelo facto de ser Património Imaterial da Humanidade desde 2011, considerando assim que, “ao partilharmos convosco o fado, também estamos a partilhar a nossa alma”.

A fadista Liliana Luz tem 38 anos e nasceu em Cantanhede. Aos 28 anos de idade, depois de estar há um ano a viver apenas da música e a cantar no Casino da Figueira da Foz, a participar num show em que cantava apenas fado, tomou “o gosto pelo bichinho” e pensou “porque não posso só cantar?” Foi esta experiência que a levou a decidir que “era isto que eu quero fazer! Sou tão feliz a fazer isto!” Assim, decidiu fazer as malas e ir para Lisboa. Com a ajuda de Carlos Cruz da C2E, Liliana Luz foi apresentada em várias casas de fado lisboetas. Foi no “Marquês da Sé” e no “Senhor Vinho” que a fadista começou a fazer as folgas dos outros fadistas, quando, ao fim de poucos meses, a proprietária e fadista Maria da Fé a convidou para ficar a cantar no “Senhor Vinho”, onde esteve durante 8 anos. O amor fez com que recentemente fizesse as malas e viesse residir para a cidade de Bremen na Alemanha. O fado continua a fazer parte da sua vida, agora enriquecida pela sua bebé, que a levou a fazer uma interrupção na sua carreira. A noite de ontem marcou o regresso de Liliana Luz aos espetáculos, voltando assim a cantar a vida, pois “o fado nao é só tristeza, tal como a vida não é só tristeza. Temos momentos muito tristes e muito felizes, e o fado é isso! O fado conta e canta a vida. Estar a cantar numa sala com tantos alemães é uma experiência deveras gratificante e arrepiante.”

 

 

Sara Duarte começou a cantar música ligeira aos 13 anos, até que houve uma professora que lhe disse: “se calhar até tinhas boa voz para o fado, não queres experimentar?” – Sara começou a explorar o fado, a frequentar Noites de Fado e começou a cantar. “O bichinho começou a ser ainda maior” tanto que ainda continua a cantar até hoje.

 

 

 

Mara Pedro tem 19 anos e começou a cantar muito nova. Descobriu a paixão pelo fado muito cedo ao ouvir cantar Amália Rodrigues, “porque na verdade na família ninguém tinha esse hábito de ouvir fado ou essa cultura” por ser beirã, bem como pelo facto de o fado não estar tão vivo nas beiras. No entanto, começou a cantar, a fazer alguns espetáculos e a ter as suas primeiras experiências em palco com quatro anos. Foi essa sua primeira experiência em palco que a fez descobrir que “é isto que eu quero fazer! Foi um sentimento que eu senti quando estava no palco que me disse que era esse o sentimento que eu queria sentir mais e mais vezes.” Para Mara Pedro, o fado fá-la crescer por ter sempre uma mensagem e é a sua forma de se expressar. Considera ser gratificante poder cantar para portugueses que residem fora de Portugal e agradece o acolhimento que lhe proporcionam e o respeito da comunidade portuguesa e alemã que respeitam e gostam da nossa cultura.

Anabela Ribeiro, a magnífica voz do grupo português de Unna “Sina Nossa”, que existe desde 2005, revelou que nessa altura perguntou ao seu irmão se ele não teria alguns textos ou alguma música escondida que se adaptassem à sua voz. Começou a criar uma certa ansiedade de fazer música com os músicos de que ela gosta, tendo sido assim que surgiram os “Sina Nossa”. As letras que interpretam são da origem do Sr. Ciro da Silva, que ajudou imenso o grupo, outras são criação da Anabela Ribeiro e do seu irmão Armindo Ribeiro, bem como de Isabel Moita que lhes deu textos que escrevera para Amália Rodrigues, tendo-lhes permitido interpretá-los “à sua maneira”. Para além de Anabela Ribeiro, os membros deste magnífico grupo constituído maioritariamente por portugueses são Ivo Guedes, na guitarra portuguesa, André Krengel (alemão), na viola, Adélio Lopes, no acordeão, André de Cayres (brasileiro), no contrabaixo, Jorge Rodrigues, voz e percussão, bem como Armindo Ribeiro, voz e piano. As influências musicais deste grupo são o fado, a morna, o choro, a música clássica, os blues, o pop, o jazz, o tango bem como a música latina. Cantar em língua portuguesa representa-os e fala pelos “Sina Nossa”, que, apesar de possuirem um elemento alemão e outro brasileiro, fazem questão de cantar em português, por considerarem ser a “nossa alma, por sermos nós. A nossa alma é portuguesa. Para nós não haveria qualquer outra possibilidade de cantarmos o que sentimos a não ser na nossa língua. Apesar de vivermos longe de Portugal, a língua portuguesa continuará a ser a nossa língua. É a língua dos nossos pais que nos tocou, nos marcou e que nos continua a acompanhar a cada dia das nossas vidas.” Quanto ao futuro, os “Sina Nossa” irão lançar o seu terceiro album em 2019.

Para terminar esta 27.a Noite de Fado, todos os artistas presentes em palco presentearam o público com uma magnífica interpretação de “uma casa portuguesa”, tendo esta noite culminado naquela, que, segundo as palavras da moderadora Julia Ures foi uma noite em que se demonstrou sem quaisquer dúvidas, que “a coexistência, a compreensão e o entendimento entre as pessoas de diferentes origens culturais pode e deve resultar e funcionar como a noite de hoje.”

[Red. Correio-Luso.de, Mirele Oliveira Costa]

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